domingo, 12 de outubro de 2008

Outubro estranho... Caucaia se transforma

Descaso, incompetência, desmoralização do setor público.... desrespeito à população. Inúmeras expressões podem ser adotadas para refletir acerca do pacote de ações que vêm sendo executado na Prefeitura Municipal de Caucaia. Inclui-se aí demissões em massa, paralisação de obras e serviços públicos, desregulamentação dos setores produtivos locais entre outros que oscilam entre a renovação de favores aos eleitos, caça à bruxas da oposição e o simples sumiço de quem poderia fornecer alguma resposta à todas essas arbitrariedades.


Mas isso não é caso novo. Desde o início da atual gestão constrói-se um castelo de areia pronto para desmoronar, isto é, a gestão (cargos comissionados, técnicos e gerais) foi composta por uma aglomeração enorme de pessoas que à base de práticas arcaicas trocaram seus direitos democráticos por um emprego ou um subemprego no município. O reflexo disso foi encontrado ao longo de quatro anos, onde o amadorismo do corpo se confrontava com a experiência da cabeça (pelo menos no sentido político) e, a partir disso mostrou o quão frágil é a organização para o desenvolvimento municipal. Para tanto, por exemplo, na Fundação de Cultura tivemos por um longo tempo um presidente que sequer sabia conceituar cultura, limitando o tempo quase todo à lazer e esporte a imensidão da cultura. Do mesmo modo a desqualificação de profissionais engajados na formação de ambiente socialmente mais apto adicionou ainda mais ao estouro constatado nas urnas no último pleito. O uso de assistencialismo no convencimento das pessoas sobre o que é necessário para estas, torna-se cada vez menos eficaz, prova disso é que ao longo desses quatro anos nos afogamos em ações mascaradas pelo calor de grandes feitos, mas totalmente descontínuas possibilitando assim a necessidade cada vez mais urgente de se ter um processo pleno de crescimento c/ desenvolvimento econômico e social.


Enfim, o fato é que no jargão popular: não adianta chorar o leite derramado. Nesse caso, não adianta chorar os recursos mal administrados, os gastos abusivos sem retorno, a mediocridade das atitudes para controlar o orçamento há menos de 3 meses do fim do mandato. A lei de responsabilidade fiscal é clara: Final de gestão = contas pagas. O problema é o atropelo realizado na tentativa de equilibrar esse mecanismo contábil.


Vamos analisar então a relação contábil sob o formato econômico e social. Mesmo sem inferências estatísticas ou análises muito aprofundadas, é possível visualizar claramente que uma grande parte da população de Caucaia que trabalha no município, o faz direta ou indiretamente para a Prefeitura. Sabendo que os valores convertidos à circulação na jurisdição municipal é fruto principalmente daqueles que têm quaisquer necessidades de transitar na cidade, automaticamente iremos perceber que a economia daqui é em parte sustentada pelo item custeio no orçamento público, ou seja, além de empresas como a Vitória (concessionária monopolista do transporte coletivo), Caisa (Pertencente à família do vice-prefeito, Ernani Viana), Aço cearense e algumas outras, parte do montante em termos econômicos do PIB local é movimentado pela administração pública. O resultado disso em nível local é quase como a crise de 29 e a quebra da bolsa de NY, isto é, o pânico toma conta das pessoas que agora desempregadas passam a afiar as garras em busca de formas alternativas de subsistência, dado que a alocação irregular apesar da legislação, do controle social e principalmente do senso administrativo incute nesse momento mecanismos stop and go, na esperança de que a próxima gestão reorganize e readmita mais um grande contingente da população desempregada. Ainda assim, o caos será sentido principalmente no setor terciário onde concentra-se a maior fonte de arrecadação e renda da economia caucaiense. Espera-se que o impacto não seja tão sensível nos primeiros dias, pois os cortes começam na metade do “outubro infernal”, no entanto, o choque endógeno poderá ser avaliado nos próximos meses com a intensificação do processo de concentração de renda devido ao pagamento quase exclusivo à fornecedores não situados em Caucaia. Outrossim, presenciaremos o entrelace conflitante de interesses do aquecimento de fim de ano, isto por que inevitavelmente surge uma ampliação natural da propensão à consumir das famílias, o que será afetado pelo amplo corte de salários oriundos da crise política e desmoronamento da máquina até então guiada pelos Arruda.


Sob outra perspectiva analisamos a incipiente gestão como resultado de uma campanha associada à altos valores dispendidos, estes supostamente angariados pela mais uma vez estranha associação entre partidos ideologicamente “opostos” como o PT e o PSDB. Notoriamente, surge pelo menos no Distrito da Jurema (aprox.54% da população – Censo 2000) uma expectativa de rompimento com a politicagem, mas sabe-se que as alianças firmadas, inclusive as de última hora indicam uma continuidade dos feitos politiqueiros no município. Não é preciso ser um cientista político para perceber que o futuro prefeito terá de manter muitas relações da oposição devido aos arranjos que converteram nas vésperas do pleito líderes do 15 em 10. Mas estas são cenas do próximo capítulo.


O fato é que a atual gestão sofreu um duro golpe, pois é sabido pelo povo também que quem comanda o barco (agora naufragando) do poder municipal é o marido da atual prefeita e Deputado Federal José Gerardo Arruda, o Zé Gerardo, que provavelmente junto com a filha e Deputada Estadual, Lívia Arruda, deverão candidatar-se no próximo pleito. Mesmo com a baixa capacidade de memória do povo, o impacto das recentes atitudes da Prefeitura vinculada ao cansaço da mesmice vai provocar uma redução do eleitorado de ambos que já vem se revelando desde as eleições de 2006, quando a população de Caucaia não só direcionou seus votos para outros candidados como o fez para candidatos que nada tinham a ver com o estilo Arruda de ser. Mesmo com a vitória naquela eleição, é fatídico que o cenário político da cidade começa a mudar, mas ainda não se atingiu um nível de maturidade suficiente sequer para determinar as funções dos cargos públicos disponibilizados, pois ainda têm-se a impressão de que vereador é executivo e não legislativo e a política de favores ainda é forte nesse âmbito. E por falar em vereadores, estes foram uma das principais ferramentas de desgaste da atual gestão e mobilizadores para a vitória do candidato da “liberdade”. Com a cassação dos atuais membros da Câmara municipal, por improbidade administrativa, a predileção destes foi abalada, pois não foi possível ocultar as leviandades do poder legislativo municipal junto ao público. No entanto, a autorização do TRE-CE a estes indivíduos para uma nova candidatura possibilitou um retrocesso marcado pela diferença que claramente se fez entre a campanha para vereador e para prefeito, ou seja, indiferentes às coligações candidatos vinculados a Inês Arruda se aprumaram no rumo de Washington Góis, mas ainda não deixaram de seduzir o povo com promessas de trabalho e/ou benefícios individuais. O resultado é que as primeiras colocações foram novamente dos vereadores cassados, validando que a mudança chega, mas ainda está carregada do passado.


Em 2008, vimos o desespero para equilibrar as contas mesmo sem equilibrar o cenário político, essa história é marcada por um processo de longos anos onde algumas famílias detêm o poder em Caucaia (os Arruda, Viana,Guimarães, Corrêa, entre outras). Esperamos que a ascensão de um novo sobrenome não arraste consigo o peso das práticas do passado ou teremos muito em breve mais um desequilíbrio e dessa vez com mais um item nas contas públicas: Os Góis.



Um comentário:

Gilfran disse...

Olá Paulim! Inicialmente venho lhe dar as boas vindas ao interessantíssimo mundo do blog, local onde temos (ainda) a devida liberdade de expressar nossas idéias, posicionamentos e até mesmo desabar meia dúzia de palavras sem sentido...

Felicito ainda pelo primeiro post muito bem elaborado e que revela para muitos uma realidade até então desconhecida.

Tenho no conceito geral que seu início de post é redundante, pois creio estar/ser decepcionado de uma maneira geral com os politiqueiros, logo as palavras iniciais são infelizes reflexos de quaisquer administrações políticas que temos atualmente. Muitos colocar a culpa na nossa imaturidade democrática, alegando que somos uma "democracia nova". Eu realmente prefiro nem comentar tamanha desculpa esfarrapada, mas enfim...

Fico por aqui para não me alongar muito no comentário, afinal, é só um comentário, mas deixo aqui um abraço e sucesso, continue com seu blog e mostre sempre essa visão crítica, que é sempre tão omitida e censurada na mídia convencional.